Dia Mundial da Criatividade 2021: desafios para uma comunicação criativa

Como comunicar usando a criatividade num mundo em que precisamos cada vez mais chamar a atenção de um público distraído com informações vindas de todos os lados?

Pois é, eu fiz esse vídeo na cozinha da minha casa.
Quem já viu algum vídeo meu, sabe o porquê.

A cozinha é o principal cenário onde eu costumo gravar meus vídeos, que misturam culinária com política e atualidades. Aqui já fiz receitas como aquela que mostra a velocidade com que esse governo toma decisões: Pô, Lenta! A sobremesa que o brasileiro precisa consumir para aguentar o que está acontecendo, o Bolo de Fubasta! Ou o doce para quem tem criança mimada em casa, o Pede, Moleque.

Mas é importante deixar claro que eu sou jornalista, eu não sou chef de cozinha ou gastrônomo. Sou um cozinheiro amador. E costumo dizer que sou também um influenciador “incidental”.

Como assim, incidental?

Eu sou roteirista de TV freelancer, um profissional contratado por projetos. E no começo da pandemia aqui no Brasil, lá pra março, abril de 2020, todos os projetos em que eu estava trabalhando foram cancelados ou adiados até segunda ordem.

Fiquei naquele susto que todo mundo ficou, de incerteza, de não saber o que ia acontecer no futuro próximo, se tudo aquilo ia acabar em 1 mês ou 1 ano. Bem, até hoje a gente ainda não sabe direito, né?

Mas aí eu pensei: eu fiquei sem esses projetos, mas eu tenho aqui equipamentos de câmera, iluminação, microfone… e o mais importante quando a gente quer começar um projeto: o cérebro.

Eu queria fazer alguma coisa, mas… o quê?

E eu acho muito legal falar isso no Dia Mundial da Criatividade, porque criatividade é uma coisa que sempre vem acompanhada de angústia. Aquele sentimento de: eu quero fazer algo, mas eu não faço ideia do que seja.

Eu tenho certeza que isso acontece com você. E, te garanto: acontece comigo, com o Caetano Veloso, com a Elza Soares, acontecia com o Leonardo da Vinci e com o Shakespeare.

O que é a criatividade?

Como ativar a criatividade? Onde fica o botão pra ligar a criatividade?

Se a gente quer definir uma coisa concreta, é fácil. O que é uma maçã? Ou uma banana? Ora, são frutas; uma é vermelha, pequena, um formato circular; a outra é cilíndrica, comprida, amarela.

Mas o que é a criatividade? Como a gente define? Descobre? Estimula?

No meu caso, a angústia vem quando eu olho pra uma folha em branco e nunca sei por onde começar. Fico ali encarando aquela folha, pensando que ela aceita de tudo e eu não sei o caminho que quero seguir.

E é normal. Está tudo bem!

Criar alguma coisa é sempre trabalhoso, exige paciência e transpiração.

Mas voltando pro meu processo de ter virado um influenciador “incidental”, eu estava vivendo esse momento de muita angústia. Todo mundo, na verdade, né?

A pandemia e o medo

Descobriram um vírus novo lá do outro lado do mundo, que se espalhou por todo o planeta, ninguém sabia nada sobre ele, mas a gente sabia que matava pessoas mais velhas, com comorbidades. Aí a gente começou a se preocupar com nossos pais. Será que eles estão se cuidando? Será que vão ficar bem?

Depois a gente soube que a taxa de transmissão dele era altíssima, que se todo mundo pegasse ao mesmo tempo, o sistema hospitalar ficaria saturado, não daria conta de atender todo mundo. Que faltariam leitos de hospital.

A gota d’água

Pra piorar, nesse contexto todo, veio aquilo que, pra mim, foi um grande absurdo: Começaram a surgir pelo Brasil aquelas manifestações pedindo o fechamento

do Supremo Tribunal Federal, do Congresso, a volta do AI-5, que foi o instrumento mais duro da ditadura militar, e eu pensei:

“Chega! Eu não aguento mais! Eu preciso fazer alguma coisa!”

Mas ligar a câmera e falar de política era uma coisa que muita gente já fazia. Eu precisava de um diferencial. E quando eu vi as pessoas pedirem a volta do AI-5, eu me lembrei que, a partir da decretação dele, a censura ficou cada vez mais dura. Contra artistas, intelectuais, professores e a imprensa.

E me lembrei que, naquela época, sempre que uma reportagem era censurada e os jornais não tinham o que colocar, porque a edição precisava ser impressa logo,  eles adotaram um padrão, que acabou virando uma forma de protesto: eles publicavam naquele lugar trechos de livros ou… receitas!

Capas de jornais durante a vigência do AI-5, em plena ditadura militar: trechos de livros e receitas
Capas de jornais durante a vigência do AI-5, em plena ditadura militar: trechos de livros e receitas

E comecei a pensar: e se esses malucos conseguem o que eles estão pedindo e um novo AI-5 é decretado, agora em 2020, com tantas mudanças nas formas de comunicação, redes sociais e tal, como seria a censura?

Um influenciador, alguém que fala de política no YouTube, no Facebook, no Instagram, o que aconteceria com essas pessoas?

E tive a ideia! Vou fazer receitas!

Pão que o Diabo Amassou.
Hambúrguer de CloroQUINOA!
Bolo de Nozes Tamos Ferrados!

E aí vem a explicação do porquê eu me considero um influenciador “incidental”. Em pouco tempo, minhas redes sociais passaram de um número pequeno de amigos pra uma comunidade que passou a curtir e compartilhar meu conteúdo.

E por que essa ideia simples, de aliar humor a um conteúdo sério, de uma maneira inusitada, fez tanto sucesso? Criatividade.

O bombardeio de informações

Nós vivemos num mundo, hoje, em que somos bombardeados por informações. A gente evoluiu de uma sociedade que se comunicava usando cavalos, tipo: “morreu alguém ali, monta num cavalo, e vai avisar a família lá na outra cidade…” Eles ficavam sabendo 3 dias depois, o morto já estava até enterrado…

Pra uma outra sociedade, que aperfeiçoou tanto esse processo da velocidade da comunicação, que a gente viu, ao vivo, o segundo avião bater na torre do World Trade Center. A gente viu ao vivo! De muitos ângulos diferentes! E isso foi em 2001, duas décadas atrás!

Hoje, se alguma coisa importante acontece do outro lado do mundo, em 2 segundos, já está nos nossos celulares!

Depois que as receitas temperadas com política fizeram sucesso, eu passei a produzir também outros tipos de conteúdo. Usando uma linguagem simples, didática, muitas vezes usando metáforas do dia-a-dia, simples de entender, eu tentei explicar temas mais complexos. Alguns exemplos:

Fake news e o bombardeio de informações dos tempos atuais

Imagina que sua casa está pegando fogo! Com seus pais lá dentro, ou seus filhos, enfim, pessoas queridas. Você chama os Bombeiros, eles chegam e falam: “olha, o incêndio ainda está pequeno, a gente joga água e fica tudo bem, sua família está salva!” Daí o seu vizinho, que é muito curioso, está ali ouvindo a conversa e fala:  “não sei, não… eu vi no WhatsApp que lá na Austrália, eles começaram a apagar fogo com isopor. Eles jogam isopor no fogo, apaga bem mais rápido”. Você dá ouvidos ao bombeiro, que apaga incêndios há muitos anos e sabe o que está falando ou ao vizinho e resolve testar o que ele viu no WhatsApp?

Mito da Caverna

Então hoje eu vou falar da minha história preferida na Filosofia, o Mito da Caverna, de Platão.

Revolta da Vacina

Nesse vídeo de hoje eu vou falar da Revolta da Vacina, que não foi bem por causa da vacina, a vacina foi só um estopim, a gota d’água pra problemas que já vinham de muito tempo.

E também achei que eu precisava entrar nas redes sociais que mais estavam bombando, como o TikTok ou os Reels do Instagram. Se as pessoas estavam lá, eu também tinha que ir pra lá, tentar impactar também esses usuários, convidá-los pra uma reflexão.

Mais um desafio

E aí veio outra preocupação imensa: como resumir uma ideia e passar uma mensagem contundente em vídeos de 15 segundos? Quinze segundos?!

O grande desafio nessa área em que eu atuo – e aí a criatividade vai fazer muita diferença – é: como conseguir a atenção de uma audiência cada vez mais dispersa e focar naquilo que realmente importa? E, claro, fugindo de fake news. As notícias falsas, a desinformação.

As redes muito ricas e poderosas que financiam essa indústria são bem difíceis de serem combatidas. Com certeza, você já se viu obrigado, um dia, a desmentir alguma coisa que um parente próximo, um amigo, te mostrou. Talvez você até já tenha caído também numa mentira, repassando uma informação incorreta, ou mandado aquele famoso “recebi aquilo lá no WhatsApp, será que é verdade?”

Uma grande Times Square

Não sei se você que está me vendo já teve a oportunidade de ir à Times Square, em Nova York. (Spoiler: eu detesto esse lugar, é muita gente, muito barulho, muita luz, eu detesto). Mas, mesmo que você nunca tenha ido, você já viu a Times Square.

A Times Square é um bom exemplo do que a gente está vivendo, hoje, no mundo, com a informação. Pensa em alguém que está chegando lá pela primeira vez na vida. Essa pessoa não sabe pra onde olha! Tem os letreiros, os outdoors, as peças da Broadway, as lojas, aquela multidão, aquele barulho, as buzinas de Nova York, é enlouquecedor!

E o que está acontecendo com a informação no mundo, hoje, é justamente isso. A  gente não sabe pra onde olhar, quem ouvir, em quem acreditar!

Nós da Imprensa

O que a comunicação precisa enfrentar – e não é no futuro, não, é agora, no presente mesmo – é como conseguir captar a atenção dessa pessoa que chegou pela primeira vez na Times Square. Isso serve pra quem faz jornalismo profissional, inclusive é uma coisa que eu abordo muito no meu podcast, o Nós da Imprensa, que discute nosso trabalho como comunicadores. Se você não conhece, dá uma olhada aí:

#27 – Reportagem em tempos de ódio Nós da Imprensa

Num país polarizado como o Brasil de 2022, é cada vez mais difícil fazer reportagem sem desagradar um dos polos. Por mais precisa, correta e bem apurada, sempre haverá quem "discorde" de fatos objetivos e dados empíricos. Tudo piora quando um lado conta com um aparato de violência virtual que persegue e destila ódio. Neste episódio do Nós da Imprensa, o jornalista Raphael Prado conversa com Juliana Dal Piva, colunista do UOL. Ela é autora da série de reportagens que deu origem ao podcast "A Vida Secreta de Jair", com denúncias de um suposto esquema de rachadinhas nos gabinetes da família Bolsonaro. Ela foi vítima de perseguição nas redes, mas não se intimida: em agosto, lança o livro "Os Negócios do Jair", novo desdobramento de seu trabalho jornalístico.
  1. #27 – Reportagem em tempos de ódio
  2. #26 – O que esperar da cobertura das eleições 2022?
  3. #25 – O jornalismo e a democracia vão resistir a tantos ataques?
  4. #24 – É urgente regulamentar as redes sociais para combater a desinformação?
  5. #23 – O caos no Afeganistão e o papel da mídia no apoio à "Guerra ao Terror"

A gente fala muito sobre fake news, sobre tentativas de intimidação da imprensa, sobre o papel dos jornalistas nesse mundo veloz e cheio de mentiras. Mas isso não vale só pra gente, jornalistas, não.

Vale também pra quem está falando comercialmente com as pessoas, quem vive de publicidade, para o funcionário fazendo uma apresentação para o chefe. Serve pro advogado que vai defender uma tese no tribunal, pro vendedor que quer convencer um cliente.

Como captar a atenção do público no meio desse bombardeio? E vou além: serve pros amigos, pras famílias, tão desestabilizadas e desunidas pela polarização política que atingiu a sociedade nos últimos anos.

Nós sabemos, claro, que tem gente que não vai querer mudar de opinião, que está ali com a cabeça fechada. Essas são aquelas que estão sempre prontas pra acreditar nas mentiras, aqueles que confiam na desinformação.

Mas sabemos também que tem gente jogada na Times Square pela primeira vez, deslumbrada com todas aquelas informações, com as mentiras, sem saber pra onde olhar ou como agir. São essas pessoas que a gente tem o desafio de resgatar.

E como fazer isso?

Qual você acha que vai ser a saída? Como a gente vai escapar dessa armadilha que são as fake news, a desinformação? Como resgatar aquele parente, aquele familiar, aquele amigo que parece não se importar com a verdade?

Bem, esse é o desafio. É pra isso que a gente precisa da criatividade. Pra buscar essa resposta. Então aí sou eu que te pergunto: como fazer isso?

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