Fake news e o bombardeio de informações dos tempos atuais

Vivemos uma época em que todo mundo tem mais certezas do que dúvidas, geralmente se baseando em fake news que receberam na internet. Como lidar com essa realidade?

Imagine que a sua casa está pegando fogo!

Com seus pais lá dentro ou seus filhos, enfim, pessoas queridas. Você chama os Bombeiros, eles chegam e falam: “olha, o incêndio ainda está pequeno, a gente joga água e fica tudo bem, sua família está salva!”

Daí o seu vizinho, que é muito curioso, está ali ouvindo a conversa e fala:  “não sei, não… eu vi no WhatsApp que lá na Austrália, eles começaram a apagar fogo com isopor. Eles jogam isopor no fogo, apaga bem mais rápido”.

Você dá ouvidos ao bombeiro, que apaga incêndios há muitos anos e sabe o que está falando ou ao vizinho e resolve testar o que ele viu no WhatsApp?

Acho que a resposta é bem óbvia, né?

Mas você já parou pra pensar por que, hoje, soluções que parecem óbvias pras coisas se tornaram extremamente complexas? Tudo virou passível de questionamento, ninguém acredita em mais nada, todo mundo sabe mais do que o outro sobre qualquer assunto.

E, aqui, uma observação importante: não existe nenhum problema em questionar as coisas. Muito pelo contrário! É assim que a sociedade avança. Antigamente, as pessoas acreditavam que o Sol girava em torno da Terra, até que alguém questionou e falou: “não, é o contrário”. E, depois de muito estudo, de provas científicas, de perseguições de quem pensava diferente, a gente descobriu que é a Terra que gira em torno do Sol.

Mas, hoje, o cidadão comum questiona um doutor em epidemiologia com a certeza de que é ele, – e não o doutor – que está correto. E tudo com base numa “notícia” que ele recebeu do tio da prima do vizinho do pai dele.

A “legião de imbecis”

Em 2015, o filósofo italiano Umberto Eco recebeu o título de doutor honoris causa na Universidade de Turim, na Itália. No discurso, ele falou uma coisa muito interessante: disse que a internet criou uma “legião de imbecis” que, antes, falavam as coisas numa mesa de bar e depois de uma taça de vinho, “sem prejudicar a coletividade”. E ainda seguiu:

“Normalmente, eles eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”.

Dá pra discutir muitos aspectos disso que o Umberto Eco falou. Quem são esses imbecis? Só aqueles de quem a gente discorda? Bem, eu falo toda hora aqui na internet e também tem um monte de gente que discorda de mim. Então, nesse raciocínio, eu seria o imbecil.

No caso do bombeiro tentando apagar o incêndio com água e o vizinho mandando jogar um produto inflamável no fogo, é bem fácil separar quem está certo e quem tá errado. Mas e se – vamos supor, nada a ver com a realidade, tá? Surge uma doença nova. Só uma suposição. E alguém me diz que aquele mesmo tio da prima do vizinho do pai dele tomou um remédio e se curou? Eu tomo também?

homem encapuzado lê um jornal que está pegando fogo, simbolizando os perigos das fake news e desinformação
Foto de Connor Danylenko no Pexels
Um bom remédio para fake news

Eu sei que não é fácil, principalmente nessa época em que a gente vive, com um bombardeio de informações vindo de todos os lados, separar o que é verdade do que é mentira. É um desafio imenso. Mas existe uma saída: a Ciência. Na dúvida, a gente recorre à Ciência.

Mas tenha sempre em mente que insistir em tratamentos ineficazes ou espalhar essas mentiras mesmo que você não saiba que é uma mentira, uma fake news, que esteja fazendo na melhor das intenções, é como ser o vizinho curioso, sugerindo jogar isopor no fogo.

Ele pode até ter sido bem intencionado na sugestão dele (apesar que muita gente também espalha mentira de propósito, por maldade), mas lembre-se que a casa que está pegando fogo é sua. A família que está lá dentro é a sua família.

Você vai preferir seguir a recomendação do vizinho ou do bombeiro e apagar o fogo com água?

Quando você receber uma notícia que parece milagrosa, inusitada, inovadora, mas que você tem dúvida se é verdade, não passe pra frente. Não seja o vizinho que vai matar a família de alguém.

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