A insistência na mentira

Por que insistem tanto nessa mentira de que não teve ditadura, de que não foi um golpe, mas uma “revolução” e mentem até na data, falando que foi em 31 de março e não no 1º de abril, dia da mentira?

Bem, quando lançou sua candidatura à reeleição – mesmo sem poder dizer que estava lançando -, o presidente deixou muito claro que estamos em uma luta “do bem contra o mal”. Isso porque militares precisam de um inimigo. A gente vê agora, muito claramente, lá na Ucrânia. Russos lutam contra ucranianos. Ucranianos lutam contra russos. É muito claro quem é o inimigo um do outro.

Mas quando o assunto é política, existe todo um espectro de opiniões, de pontos de vista, de ideias que não são 8 ou 80. A política tem nuances. Militares são pessoas obtusas, diretas, sem meio termo – e aqui não é nem uma crítica, por que já pensou se eles estão em uma guerra e começam a pensar: “será que eu aperto o gatilho? Mas essa pessoa que eu estou matando pode ter filho, família…” Bom, enquanto ele raciocina a respeito, ele vai ser morto antes. Então o militar é treinado pra não pensar.

Só que quando eles estão em períodos de paz – e, no caso do Brasil, faz muito tempo que eles só pintam poste e guia de sarjeta -, eles se metem na política. Mas eles transferem para o debate político aquele comportamento da guerra: eles precisam de um inimigo.

Os primeiros inimigos que militares ou extremistas de uma forma geral encontram são justamente aqueles com quem eles não conseguem dialogar. Porque eles não sabem, não são treinados, não aprenderam o diálogo.

Tanto que eles fogem de debate.

Então eles vão atrás dos questionadores: artistas, intelectuais, acadêmicos, historiadores, estudantes… pra que um governo deles dê certo, eles precisam calar vozes que pensam, que raciocinam, que enxergam as nuances da vida em sociedade. Por isso, os primeiros inimigos sempre são esses. Eles adoram, por exemplo, atacar Paulo Freire – quer um alvo melhor que um educador que propôs o pensamento crítico dos alunos?

Não é à toa que a comissão que apurou os crimes da ditadura foi a Comissão da Verdade, pra buscar tudo aquilo que aconteceu nesse período da história brasileira. E atacar a verdade (ou… falar mentira) faz parte de um projeto político muito comum hoje, no mundo inteiro. O que se chama de “revisionismo histórico” é quando essa galera tenta mudar o entendimento sobre um acontecimento que todo mundo sabe que aconteceu de um jeito, mas eles querem convencer que foi de outro.

Sabe quando você terminou um namoro, foi você quem deu o pé na bunda, mas o ex ou a ex espalha pra todo mundo que não, quem deu o pé na bunda fui eu?! Pois é.

Enfrentar esse comportamento é muito difícil porque, né, tem gente que acha que a Terra é plana… imagina se não vão acreditar que mentiram na escola sobre o golpe de 64… mas como é que se derrota, com ideias, um inimigo que usa estratégias militares? Que acha que política é o bem contra o mal, que precisa derrotar o inimigo, fuzilar o adversário? Bom, tem muita gente, eu inclusive, procurando essas respostas. Pra mim, hoje, a melhor estratégia ainda é entender essas pessoas que apoiam esse jeito de fazer política e convencê-los de que não, não é assim. Que quem pensa diferente não é inimigo. Que a gente precisa dialogar.

Mas a dúvida de 1 milhõa de dólares é a mesma do soldado que pensa antes de puxar o gatilho… será que enquanto a gente dialoga, a gente já não virou alvo?

É… eu não tenho resposta. Mas também me recuso a enfrentar quem não pensa com a mesma ignorância.

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