O Brasil está polarizado?

Ou: por que é incorreto dizer que o Brasil está polarizado? Bem, uma polarização acontece quando a gente tem dois opostos de uma mesma categoria. Flamengo e Fluminense num jogo de futebol. Osasco e Minas no vôlei. Mas não dá pra dizer que é polarização quando um time é de futebol e outro é de basquete.

https://www.youtube.com/watch?v=HnFctBLe4-Q

Tem sido muito comum usar a expressão “jogar dentro das quatro linhas” pra se falar de democracia. Então vamos destrinchar o que significa isso. A referência, claro, é um campo de futebol. Quando os dois times entram pra se enfrentar, a primeira coisa importante: todo mundo sabe jogar futebol. Sabe que se a bola sai é lateral ou escanteio ou tiro de meta – depende por onde saiu -, que falta dentro da área é pênalti, que gol impedido não vale etc. Ou seja, todo mundo não só conhece como *está de acordo* com as regras. E todo mundo sabe e concorda que tem uma autoridade máxima dentro de campo a quem cabe respeito: o juiz. Quem faz gol impedido nunca acha que está impedido. Quem faz falta dentro da área nunca admite que foi pênalti – tanto que, a cada lance polêmico, a gente vê o juiz cercado pelos jogadores dos dois times tentando vencer ali no grito, convencer o juiz de quem tem razão.

Pois veja:

Apesar de cada um dos jogadores e de cada um dos torcedores terem a sua própria opinião sobre um lance, quem decide é o juiz. A palavra final é dele e – o mais importante – todos os envolvidos respeitam essa decisão. Podem até não aceitar, reclamar depois numa entrevista, recorrer ao STJD, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Mas o jogo só acontece e os campeonatos só acontecem porque todo mundo está ciente de que é assim que funciona.

E por que, então, a gente não está vivendo uma polarização?

Vou dar dois exemplos:

O primeiro, do ex-presidente Lula. Assim como um time que toma um gol impedido ou sofre um pênalti que acha que foi injusto, ele reclamou. Disse que aquilo não estava certo, que o juiz errou, era ladrão e tal, e foi expulso de campo.

E aceitou. Ele saiu de campo. Saiu reclamando, dando entrevista discordando, recorreu a outras instâncias, mas aceitou a regra do jogo. Ficou preso (ou expulso de campo, pra continuar nessa metáfora) e foi cumprir a pena até que as instâncias superiores revisassem a decisão das inferiores.

O segundo exemplo é de um cara que não concordou com a decisão do juiz, xingou o juiz, ameaçou o juiz, foi expulso e se recusou a sair de campo. Pegou a bola. Sentou no chão. Disse que não ia sair. Enquanto isso, o técnico, lá de fora do campo, começou a jogar a torcida contra o juiz. Dizer que era pra galera pegar no pé do juiz, que o juiz não ia sair de campo ileso. Convocou a torcida pra invadir o campo. Ameaçou toda a comissão de arbitragem, disse que aquilo era um absurdo e simplesmente parou o jogo. Impediu que o campeonato continuasse.

Essa galera – e eu não vou citar nomes pra não dar mais publicidade pra quem é mau jogador -, não aceita as regras do jogo. Não admite que é possível discordar do juiz mas você pode fazer isso sem interromper a partida. Que convocar sua torcida pra invadir o campo e ir atrás do juiz não faz parte das regras. Até porque a torcida, curiosamente, está fora das quatro linhas.

Dizer, então, que o Brasil está polarizado é uma inverdade.

Polarizado podia estar nas eleições em que o PT disputou com o PSDB, nas que a gente vê nos Estados, nas cidades. Polarizado a gente está quando o Flamengo enfrenta o Fluminense. Quando o São Paulo enfrenta o Santos. Quando o Corinthians enfrenta o Palmeiras.

Mas não é polarização quando vários times querem jogar futebol… mas alguns trogloditas querem lutar vale-tudo.

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