O negacionismo, no Brasil, não é de hoje

A gente tem falado bastante de negacionismo – o negacionismo da Ciência, da medicina etc. Mas isso não começou agora, na pandemia. O Brasil cometeu um erro pior, anos atrás, que nos trouxe a essa situação: a Brasil negou a política. E agora a gente vê as consequências.

Vocês se lembram que as chamadas Jornadas de Junho, em 2013, começaram contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo.

A polícia respondeu de forma violenta, as ruas foram tomadas em todo o Brasil e, de repente, o brasileiro resolveu protestar. E pediu as coisas mais difusas, cada um tinha um cartaz diferente na mão inclusive eram bem engraçados, né? E, no fim, virou aquela coisa “contra tudo isso que tá ai”.

Inclusive a gente elegeu pessoas, e eu não estou falando só do presidente, estou falando de congressistas também, aqueles youtubers raivosos que faziam vídeos gritando, xingando, com essa plataforma de ser “contra tudo isso que tá ai”.

Mas agora, exatamente nesse momento que o Brasil está passando, a gente vê o quanto negar a política e abraçar essa pauta difusa nos trouxe pra esse beco.

Que salada!

Quando você compõe um governo sem nenhum compromisso ideológico, vira uma grande salada! Mas não é uma salada gostosa, porque mistura fruta com legume com arroz e catchup e sopa e sushi e pizza e bolo… isso ficaria gostoso? Isso é comestível?

Foi pra separar quem tem ideologias diferentes, um conjunto de ideias diferentes, que a Política criou agremiações que reunissem quem pensa de maneira mais similar, os partidos políticos.

Esse governo foi eleito por gente que negava não só a política, mas ideologia. Eles eram contra ter ideias! Achavam que era possível mudar o país reunindo inúmeras pessoas que não tinham um projeto de país em comum.

É isso é impossível!

Se você perguntar pra alguém que votou nesse governo a razão de ter votado nele, provavelmente a resposta vai ser “pra acabar com a corrupção”. Ok. Eu já falei em outro vídeo que essa é uma pauta vazia, porque ninguém é a favor da corrupção. Mas vamos lá. Se você aprofundar um pouco mais e perguntar pra 10 pessoas que votaram nesse governo qual é o projeto de país que elas acreditam, provavelmente você vai ter 10 respostas diferentes. Porque elas não se conversam. Porque elas não têm unidade.

E aí vem o problema de negar a política. A gente tem um presidente que está exercendo o mandato há quase 2 anos SEM UM PARTIDO POLÍTICO. A gente não sabe o que ele pensa – na verdade, existem dúvidas até SE ele pensa. Mas você não sabe qual o grande projeto político que ele tem para a educação, a saúde, a moradia. Ele só disse que é contra tudo que tá aí. Beleza. Mas ele é a favor do quê?

Qual o Brasil que ele imagina em 10, 20 anos?

Os partidos políticos têm, principalmente aqui no Brasil, um milhão de problemas, a gente tem legendas de aluguel, falta de compromisso ideológico, fisiologismos, aqueles que só pensam nos cargos que vão ocupar etc. Mas pelo menos eles nos permitem saber se a pessoa é liberal, progressista, trabalhista, o que ela pensa sobre diversas questões.

Quando você elege os youtubers que só gritavam e que não diziam claramente o que pensavam sobre questões mais profundas, você permite que o partido que elegeu o presidente rache em vários pedaços, que gente que apoiava vire a casaca, que herói anticorrupção saia brigado, que um ex-aliado imploda o governo da noite pro dia.

O que, claro, está sendo muito legal de ver, porque esse governo merece.

Mas isso acontece porque eles não têm compromissos em comum. Isso tudo esse é o resultado de algo que a gente precisa urgentemente combater: o negacionismo. Em relação a máscaras, distanciamento, vacinas… mas também em relação à política.

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