Infodemia e as mentiras que ainda contam

A Organização Mundial de Saúde diz que, além da covid-19, o planeta está enfrentando um outro problema grave, a infodemia. Que é o excesso de informações, verdadeiras ou não, que fazem com que as pessoas não saibam mais em quem acreditar.

A vida é sofrimento desde o momento que a gente nasce. Calma, isso não é pra te desanimar. Pelo contrário. Raciocina aqui comigo:

Se você nasceu de parto normal, foi a sua primeira angústia na vida. Você e sua mãe tiveram ali que sofrer, sentir dor, se esforçar, até você ver a luz.

Se o seu parto não foi normal, teve ali também um esforço médico, de conhecimento científico, um procedimento que é delicado, tenso, cuidadoso. E você viu a luz.

Ou seja: pra se chegar à luz, precisou de esforço.

E não, esse não é um vídeo de coaching, pra dizer que é só você se esforçar e você vence na vida. É uma tentativa de entender por que acreditar em mentiras é tão mais sedutor que procurar a verdade.

CPI da Pandemia

A gente está vendo a CPI e pensando: “como é possível que ainda tenha gente defendendo um tratamento que a Ciência já descartou?!” Porque, beleza, em um dado momento da pandemia, esse tratamento foi mesmo testado. Em vários países. Ora, uma doença desconhecida atingiu o mundo, era óbvio que qualquer tentativa de cura deveria ser experimentada. Mas logo eles disseram: “ok, não é eficaz, vamos descartar”.

Mas por que a insistência de uma galera, mesmo depois que isso aconteceu? Depois que a Ciência descartou esse remédio?

Urna eletrônica

Outro exemplo que não faz sentido: neste ano de 2021, a urna eletrônica completa 25 anos. Desde 1996 ela é usada para as eleições no Brasil – e, nesse tempo, já teve escolha de prefeitos, vereadores, presidentes, deputados, governadores… de vários espectros políticos…

(bem, tirando o Estado de São Paulo, que é sempre o PSDB).

Mas, enfim… em 25 anos, nunca houve nenhuma comprovação de fraude. Só que agora, igual a criança mimada que perde o jogo e quer levar a bola embora, começam a lançar dúvidas sobre a urna eletrônica.

Ah, e detalhe! É a galera que acha que a eleição do Biden, nos EUA, foi fraudada – sendo que lá é no papel! Ou seja, teria fraude no Brasil, porque é eletrônica. E teve fraude nos EUA, onde não é eletrônica. Ou seja, o único sistema que não tem fraude é o que me elege.

E essas bobagens – seja um tratamento ineficiente ou uma fraude que jamais foi comprovada, ou um pênis na entrada da Fiocruz, tapetes de Che Guevara -, essas idiotices todas ganham adeptos, crescem igual fermento num bolo.

Por quê?

A Organização Mundial de Saúde diz que, além da covid-19, o planeta está enfrentando um outro problema grave, a infodemia. Que é o excesso de informações, verdadeiras ou não, que fazem com que as pessoas não saibam mais em quem acreditar. Parece desesperador, eu sei. Sobretudo quando atinge um parente, um familiar, um amigo próximo de quem a gente gosta muito.

E como a gente pode tentar escapar disso tudo?

Bem, aí eu volto pro parto. Normal ou não, foi o primeiro sofrimento que você passou e que te trouxe à luz. Informar-se, procurar conhecimento, se debruçar sobre um assunto pra poder entender e formar opinião é algo que desgasta. Que cansa. Que dá trabalho. Mas que no fim também nos leva à luz.

Eu já falei naquele vídeo sobre o Mito da Caverna, de Platão, que é difícil tirar da escuridão quem acredita que aquela é a única verdade da vida. Quase sempre a gente desiste. Ora, eu tentei ajudar. Não quer ajuda, paciência.

Eu e meus colegas jornalistas, infelizmente, não temos essa opção. A gente precisa continuar informando, ajudando as pessoas nessa pandemia e nessa infodemia. Mesmo que pareça que a gente está dando murro em ponta de faca.

Mas eu não desisti do meu parto. Eu vi a luz. A gente vai passar por esse sofrimento pra chegar a um lugar melhor. Você também não desistiu do seu parto. A gente pode – e vai – vencer a pandemia e a infodemia.

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